quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Ela...

Não sei o que acontece, mas é só eu olhar e aqueles olhos doces e meigos me seguem. Não importa a cidade, o lugar, eles estão ali e sabem que eu não resisto.

Hoje aconteceu de novo. Estava eu, esperando na porta do dentista, que estava atrasado. Eu e outro menino. Conversávamos sobre a diferença entre o aparelho ortodôntico fixo e o móvel. Usei os dois e odiei os dois, mas odiei ainda mais o móvel. E ela ali, perambulando, com uma patinha manca e um andar esguio. Suas tetinhas meio caídas denunciavam que a amamentação e alguns filhotes se fizeram presentes em seu passado recente. Por pouco ela não foi atropelada. Primeiro por uma moto, depois por um carro. Meu sangue gelou. Não posso ver isso. Não posso com isso.

Uma mulher gorda e asquerosa pintava os detalhes em branco de uma calçada vertical com traços alvinegros. Quando ela se aproximou a mulher gritou e com o cabo do rolo de tinta ameaçou acertar um golpe na pobre cadelinha preta. Eu estava ao longe, observando, indignada com a forma que as pessoas tratavam o pobre animal. Mas, nada fiz. Fiquei ali, apenas olhando. Patética.

Não sei quanto tempo se passou, talvez uns 15 minutos, sei que ainda esperava o dentista, quando eu e o garoto, sentados no meio fio da calçada, fomos surpreendidos por uma presença logo atrás de mim. Há menos de um metro lá estava ela, ao meu lado. Eu só conversei qualquer coisa nessa língua que nós mulheres geralmente insistimos em falar com bebês, cães, gatos, etc... pra ela começar a balançar o rabo. Fiz carinho nela, que logo se deitou sobre a minha bolsa. Tão doce, tão meiga. Me perguntei sobre todas as maldades pelas quais aquela pobre cadelinha havia passado. Fome, sede, dor, maus tratos...

Um casal e a filhinha deles, de uns cinco anos, se aproximaram. Também aguardavam o dentista. Nisso um homem de moto avisou que ele havia recebido uma mensagem que transferia o horário da consulta. O casal desistiu de esperar e nisso a menina quis passar a mão na cadelinha. A mãe imediatamente repreendeu e disse que ela não deveria passar a mão num bicho de rua. O homem perguntou se a cadela era minha, eu disse que não e perguntei se ele não queria adotá-la. Ele nem teve tempo de responder, a mulher imediatamente assumiu sua fala e disse que não. Deu pra notar que ela odeia bichos. Sorte da cadelinha, pior que viver nas ruas é estar preso no pátio de alguém que não tem amor aos animais. E eu me pergunto por que algumas destas pessoas, que odeiam os bichos, insistem em tê-los? Pelo menos a mulher não quis, menos mal.

Sei que alguns minutos depois fui eu que fiquei com o coração na mão. Levantei para ir embora, quando após quase uma hora de espera finalmente percebi que o dentista não viria. Ela levantou também e começou a chorar quando eu me aproximei do Fusquinha. Era como se pedisse para eu ficar ali com ela. Me deu vontade de colocá-la no carro e trazê-la para casa, mas aí me lembrei que já fiz isso tantas vezes, tantas que o resultado são sete cães. Meu pai certamente teria um ataque estérico, minha mãe um colapso nervoso. E sim, eu havia prometido que não faria mais isso. Quebrei o juramento. Botei ela dentro do Fusca. Era como se aquele ato fosse algo mágico e que aquela pobre cadelinha teria um destino maravilhoso porque eu havia salvado ela das ruas. Meu intuito era levá-la para o veterinário, mas passei em casa antes para dar um prato de ração e água. Ela pouco comeu. Constatei que alguém tinha dado comida. Ela estava magra, mas nem tanto.

Meu pai viu a movimentação. Meus cães ficaram enlouquecidos. Ela estava no banco do carona e assustada. Tadinha. Nisso encontrei minha mãe que vinha da padaria. Não sabia o que fazer, ficou apavorada, disse o de sempre, que não havia condições, pois já eram sete. Eu levei para minha tia, na esperança que ela cuidasse da cadela até amanhã. Ela disse que não poderia. E uma dúvida me assombrava. Apertei uma de suas tetinhas. Ainda havia leite. Eu achei que ela não estava mais amamentando. Pra mim a cria já tinha crescido, mas quando vi o leite pensei que havia feito uma grande bobagem.

Provavelmente a cadelinha tinha abandonado os filhotes para conseguir comida e eu precisava levá-la ao encontro deles, mas aonde? Se no local onde eu estava ela não tinha filhote algum? Lembrei de um boteco onde sempre têm cachorros e gordinhos. Junto com os cães, homens simples, quase todos vítimas da dependência do álcool, formam uma mistura de coisas que a maioria da sociedade finge não existir. Ao contrário da mulher que pintava a calçada e da mãe da menina que não podia passar a mão na cadelinha, eles ao avistarem a dócil Laika a chamaram pelo nome. Ela no mesmo instante murchou a orelha e abanou o ramo indo em direção ao homem que gentilmente disse que eles davam comida e que os filhotes estavam em uma casa, próximo à praia. Eu entrei no Fusca, eles se comprometeram a levá-la ao encontro dos filhotes. Me senti estranha. Tentei fazer algo bom, mas por sorte voltei para deixá-la onde ela deveria ficar. Pretendo ajudar a doar os cães e a achar um lar para ela, conseguir uma castração, etc... A Laika, assim como milhares de cães, gatos, animais e pessoas merecem uma vida digna. Queria que o mundo não fosse tão injusto e tão feio. Queria que os animais não precisassem passar por isso. Queria que as pessoas não fossem tão más e tão fúteis.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Ausência

Olá amigos!

Peço desculpas pelo grande período de ausência e posts apenas sobre eventos culturais. Acho que não tinha nada mais interessante para falar ou pelo menos, precisava colocar os parafusos em dia.

Muita coisa tem rolado na minha vida, comecei um trabalho e agora, há alguns dias, recebi uma proposta de outra oportunidade que parece ser muito bacana. Em breve falo mais sobre isso.

Quanto a minha vida, parece que entrei num liquidificador. Tenho estado tão cansada, tão cheia de coisas para terminar e enroladas que não sei bem como descrever. Mas, estou me organizando. Parece que aos poucos tudo tem entrado nos trilhos.

Deixei de morar com meu companheiro de quase cinco anos e isso foi bastante dolorido, ainda mais porque partiu de mim esta escolha. Não sei se fiz o certo, pois ainda gosto muito dele, mas nossas vidas já não estavam no mesmo curso. Ele é uma das pessoas que mais amo no mundo, pra sempre vou guardar o carinho e a amizade, mas enfim, acho que nossa história seguiu por outros caminhos. Eu tenho sonhado com tanta coisa, tenho tentado resgatar meus reais sonhos para não me arrepender no futuro. Tenho tentado pensar acima de tudo em mim. No que eu quero, exclusivamente. Estou dando este tempo para mim.

Enfim, estou cansada e com sono. Outro dia volto aqui. Peço desculpas pela ausência. Bjos