quinta-feira, 19 de junho de 2014

e quando você para, recolhe os cacos, respira e segue em frente. reconstrução, a gente vê por aqui.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Difícil descrever o que a Legião significa para mim. Sem dúvida é a banda que eu mais gosto, que mais me identifico, que mais me ensinou, que mais me fez perceber e ir atrás de outras coisas, seja na música, na literatura ou no cinema. Renato é minha grande referência artística desde os meus oito anos. Nesse domingo, ao ouvir o primeiro programa da série sobre os 28 anos da Rádio 89 FM, a Rádio Rock, eles lembraram que a música mais tocada em 1985 foi "Será", da Legião. Acho que em geral as pessoas não dão o real valor que a Legião tem artisticamente. Talvez muito pela imagem que eu considero bem equivocada que muita gente tem do Renato, como se ele fosse um missionário, coisas do tipo. Mas, me dei conta que só tinha quatro anos em 1985 e que ouvia da minha cama as músicas que tocavam na Amji (Associação dos Moradores do Jardim Ideal), em Canoas/RS, quase ao lado de casa, imaginando como seria quando fosse adolescente e tivesse idade para ir na discoteca (sim, esse era o termo da época). Acho que não fazia ideia do quanto o Renato seria fundamental pra mim e tão pouco tempo depois. Além da Legião, na Amji tocava Smiths, Madonna, Cindy Lauper, hoje clássicos dos anos 80. Assistia na TV o Globo de Ouro, o Programa do Chacrinha, o Perdidos na Noite e creio que isso tudo acabou me influenciando para toda a vida porque trouxe um pouco de rebeldia e transgressão ainda naquele meu universo infantil que tinha também Trapalhões domingo a noite, Porcina e Sinhozinho Malta na TV em preto e branco. Acredito que três expressões artísticas foram fundamentais para minha vida e que mudaram minha visão de mundo até hoje: Legião Urbana, Ramones e John Hughes. Mas, o cara que dançava de forma esquisita e que tinha os palavrões cortados numa música gigante, ainda numa época que as rádios eram controladas por um regime militar decadente, seria fundamental para eu perceber anos mais tarde, na pior fase, lá por 93, 94, 95 que eu era estranha e que não precisava provar nada pra ninguém, só precisava ser eu mesma, ainda que achasse todo mundo diferente de mim, e que poderia cortar o cabelo curtinho quando todo mundo só queria ser bonita e ter longas madeixas, que poderia andar de preto, não sair de casa e principalmente não ir na discoteca ou ficar com os garotos que eu considerava idiotas. Confesso que nessa época eu achava praticamente todo mundo idiota, professores, quase todos os colegas da escola, mas especialmente os veranistas que se achavam mais importantes por serem de cidades maiores como Curitiba, Blumenau ou Joinville, no fundo tão provincianas quanto qualquer outra cidade, (nessa época eu morava em Piçarras, cidade do litoral catarinense, e achava que "Everyday is Like Sunday" tinha sido composta pra mim). Eu preferia ficar com meus filmes, livros, os K7's e com o Johnny Depp na parede. Mais tarde ainda percebi que no fundo todo mundo é diferente, mas é igual, cheio de angústias e frustrações e talvez por isso a Legião seja uma banda tão importante para tantas pessoas. Às vezes eu achava que quem não tinha a dor n'alma não era capaz de compreender de verdade o que caras como Renato, Kurt Cobain, Morrissey, Joey Ramone, ou tantos outros desajustados, descreviam em suas músicas, mas no fundo acho que talvez isso tudo seja uma grande bobagem e uma forma de querer se enquadrar numa caixinha, num clube para pessoas especiais que não existe. Todo mundo sofre. Acho que não quero crescer e talvez esse seja meu erro, algo que me atormente. Fiquei em algum pedaço intermediário do tempo entre a infância, a adolescência e uma adulta que não se dá conta que já tem quase 33, mas ainda vê o mundo com aqueles olhos, de quem tinha 5, 8, 10 anos e já se achava meio esquisita.