domingo, 31 de maio de 2009

Jean Charles

O filme promete. Gostei do trailer e do estilo câmera na mão. Espero que seja exibido aqui em Itajaí...




Abaixo uma entrevista do diretor Henrique Goldman ao repórter Eduardo Tardin, do Uol.

"Não poderia deixar de acusar os policiais", diz diretor de Jean Charles;

EDUARDO TARDIN


Foi divulgado nesta segunda-feira (6) o trailer do filme "Jean Charles", que abordará o assassinato do eletricista Jean Charles de Menezes, morto com sete tiros na cabeça no metrô de Londres em 2005, um dia após um atentado à bomba fracassado na cidade. No elenco, estão os atores Selton Mello e Vanessa Giácomo.

O filme, que inicialmente havia sido encomendado pela rede estatal britânica BBC, foi cancelado por questões legais e divergências artísticas com Henrique Goldman, o diretor do longa. Na época, Goldman disse que gostaria de privilegiar o ponto de vista brasileiro da história, enquanto a rede estatal queria algo com a visão inglesa do caso.

Para Goldman, que conversou com o UOL Cinema no último sábado, as mudanças "fazem parte do percurso de qualquer filme". O diretor, envolvido atualmente com a finalização do longa, disse que o fato de trabalhar há 27 anos fora do país fez com que se identificasse com Jean Charles. O filme tem estreia prevista para o dia 26 de junho. Leia, a seguir, a entrevista:

UOL Cinema - O que mais chamou a atenção no caso de Jean Charles, que fez com que você não desistisse do projeto quando a BBC resolveu deixá-lo de lado?
Henrique Goldman - O fato de a BBC tê-lo deixado de lado me motivou ainda mais, porque a porta se abriu para fazer o filme que eu queria. Não abandonei o projeto porque não podia ser abandonado. Era importante para mim, para o Brasil e para a Inglaterra. E também para o UK Film Council e a Ancine [Agência Nacional do Cinema], que financiaram o filme.

UOL Cinema - O filme aborda de alguma forma os erros dos policiais ingleses e o fato de ninguém ter sido punido até hoje?
Henrique Goldman - Sim. Apesar de não ter um enfoque na polícia, é um filme sobre o Jean Charles e seus primos, e não poderia deixar de apontar o dedo e acusar esses policiais, porque eles são desonestos. Mas a história central do filme é de como a prima dele, a Vivian [interpretada por Vanessa Giácomo], sofre com tudo que aconteceu; é a história de uma menina inocente que vira mulher, de uma pessoa se reencontrando depois de uma perda grande.

UOL Cinema - Você se identificou com o fato de Jean Charles tentar a vida em outro país, já que mora fora do Brasil há 27 anos?
Henrique Goldman - Esse foi o talvez o principal ponto de identificação minha com o Jean Charles e essa história. E não é uma coisa só minha, é um evento histórico mais recente o fato de que o Brasil deixou de ser um país feito por imigrantes para produzir emigrantes. E o Brasil não conhece esse "Brasil do exterior"; esse olhar dos brasileiros no exterior é uma coisa que não foi bem explorada.

UOL Cinema - Você trabalha mais como diretor de documentários. Por que optou por contar a história de Jean Charles em forma de ficção inspirada em fatos reais?
Henrique Goldman - A ficção nos possibilita contar uma história maior. No nosso filme, o Jean Charles e os primos dele exemplificam essa condição da "diáspora" brasileira, sobre esses brasileiros que vivem no exterior. E foi também um jeito de condensar e criar um impacto emocional maior. Um documentário sobre isso não me interessaria.

UOL Cinema - Como foram os contatos com a família de Jean Charles durante a elaboração do roteiro?
Henrique Goldman - Eles nos ajudaram muito. Sou muito grato pelo fato de confiarem em nós. Óbvio que essa situação os abalou muito, e eles ficaram feridos também pelo uso que a imprensa fez da imagem do Jean, em especial a inglesa, dando destaque a boatos levantados por policiais. Existia, com razão, certo receio da parte deles. Mas, passado esse momento inicial, nos ajudaram muito. Entrevistamos a família e também amigos. O ex-patrão e uma das primas de Jean até interpretam a si mesmos no filme.

UOL Cinema - Houve muitas adaptações na história de Jean Charles para que ela se encaixasse bem no roteiro?
Henrique Goldman: Claro, é uma obra abertamente de ficção, mas sempre fiel ao espírito do mundo que está retratando, que é o dos brasileiros no exterior. Foi baseado em horas de entrevista, depois de uma imersão total minha e do roteirista Marcelo Starobinas no mundo deles. Mas a ordem dos eventos não é necessariamente a mesma.

UOL Cinema - Como foi a participação do Sidney Magal?
Henrique Goldman - O que aconteceu de verdade foi que o Jean Charles consertou o "réchaud" de um restaurante brasileiro em Londres onde o Zeca Pagodinho iria almoçar. O dono do restaurante, em pânico, ligou para o Jean, que foi lá consertar e salvou o dia. Pensamos em fazer a cena com o Zeca Pagodinho, mas ele não tinha disponibilidade para viajar. Então pensamos em quem poderia ser um substituto à altura e que pudesse trazer uma coisa engraçada e divertida do Brasil. Por isso chegamos ao Magal. Em vez de salvar a feijoada, no filme ele salva o show do cantor.

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