quarta-feira, 22 de julho de 2009

Nem cinto, nem suspensório, diga sempre a verdade!


*Resenha sobre o filme A Montanha dos Sete Abutres. Realizada para a matéria Redação Jornalística 6, ministrada pelo jornalista Sandro Galarça (2007). Tava revirando meus textos e encontrei esta resenha. Acho que nunca foi tão atual, nem quando eu a escrevi.

O título desta resenha "Nem cinto, nem suspensório, diga sempre a verdade" parece meio sem propósito assim, lido separado, mas ele tem um significado todo especial e subjetivo no filme “A Montanha dos Sete Abutres”. Dirigido em 1951 por Billy Wilder, que entre tantos filmes fez “Crepúsculo dos Deuses” e “Quanto mais Quente Melhor”, a película faz uma crítica profunda à essência do jornalismo e explora algumas perguntas importantes como: o que é a verdade? O que é notícia? Qual é o limite do repórter? O que as pessoas procuram com a notícia? Qual a função da imprensa?

Diga a verdade! A frase bordada pela doce senhora da editoria de “coisas para mulheres” está na entrada do escritório do Sr. Boot, dono do pequeno jornal de Albuquerque. Entre tantas coisas, ele usa suspensório e cinto, exatamente! Os dois, ao mesmo tempo. Checa duas vezes as informações antes de publicar e sempre fala a verdade. Ou seja, é um homem prevenido.

Um dia aparece em seu jornal, Charles Tatum, um jornalista nova - iorquino. Homem astuto e de caráter duvidoso. Foi demitido de onze jornais, por várias razões, entre calúnias, envolvimento com a mulher do editor e problemas com bebida. Tatum, interpretado por Kirk Douglas, não freqüentou a academia, mas vendeu jornais na esquina, logo tinha toda uma teoria do que era notícia e quais notícias interessavam o público.

O pior de tudo é ver que a crítica ao jornalismo, presente em A Montanha dos Sete Abutres é real e que pouca coisa mudou no que se refere à ética. Existem milhares de Charles Tatuns, sempre pleiteando um espaço, querendo ganhar mais e mais notoriedade, sem se importar com as pessoas ou com as histórias que contam. E existem milhares de pessoas como Leo Minosa, o personagem preso em uma caverna, que em sua ignorância e ingenuidade acredita que será salvo pelo amigo mentiroso, o jornalista Tatum.

A ética é algo tão banalizado que ser ético é ser trouxa e isso era tão real em 51 como é em 2007. Ser ingênuo é ser burro. Não importa a classe social que se faça parte, o mundo do passe para trás está em tudo e especialmente na imprensa. Os meios de comunicação são fundamentais na manipulação, na bajulação desordenada e a ética figura como um detalhe, muitas vezes esquecida em uma gaveta, como uma pauta para mais tarde.

Vale a pena passar por cima de tudo e de todos para ter uma boa notícia, um ótimo salário, ser agraciado pelos leitores, espectadores, ouvintes? Ser jornalista é sinônimo de artista por acaso? Quais informações úteis realmente passamos à frente? Me pergunto isto todo dia. O que quero com o jornalismo? Que tipo de coisa construo a partir de minhas impressões?

Acredito que Tatum pagou seu “pecado” numa frase bem católica. Se não fosse por sua vaidade, a probabilidade de que Leo Minosa saísse muito tempo antes da caverna seria múltipla. Se não fosse por sua arrogância, ele mesmo não teria morrido.

A placa: “Fale a verdade” é tão ousada quanto ditadora. Um pouco mais de sinceridade não faz mal nenhum. Por mais piegas que seja, voltamos sempre aos ensinamentos básicos: onde começa o direito de um, acaba o do outro, talvez isso seja a essência da ética. Talvez as redações precisem mais de cintos e suspensórios, assim como placas de Diga a Verdade! Mas de que adiantam placas, se os olhos não querem ver?

2 comentários:

Édnei Pedroso disse...

Muito bom o texto, hein? Tens razão: continua atual. Parabéns.

Simone Castro disse...

Obrigada Édnei. Valeu pelo apoio! Bjos