quinta-feira, 21 de junho de 2007

A intenção era que fosse crônica...

Dizem que a crônica tem que falar de cotidiano e especialmente tem que ter uma crítica social. Pois bem, esse texto não é bem uma crônica, mas enfim, ele vai falar de mulher.

Como falava em um dos textos anteriores tem a coisa toda da dupla, terceira jornada feminina. Eu estudo a noite, faço estágio em dois lugares e ainda sou dona de casa, meio que sempre deixando alguma coisa pra trás. A casa que moro não é a mais limpa, mas sou eu quem cozinho, lavo, passo (falar nisso ainda tenho que recolher a roupa do varal, se não cai sereno, mas preciso terminar este texto).

Pouco sobra tempo pra mim, eu, indivíduo. Uma professora minha diz que só tem tempo pra ela, assim, sozinha, quando está no banho. Acho que é bem isso. Tudo é muito rápido.

Lembro dos tempos de infância, da minha infância. Fui uma criança normal, fazia os deveres da aula, brincava e ajudava minha mãe. Não gostava muito de lavar louça, hoje ainda não gosto, especialmente de ariar panela. Em compensação minha mãe, nunca vi panelas mais brilhantes que as dela, nem panos de pratos mais brancos. Mas tudo bem, isso não vem ao caso.

Lembro de minha mãe na labuta diária. Sendo dona de casa, mãe, mulher e trabalhando fora. Ela pouco estudou, há alguns anos voltou a estudar, mas sempre foi muito batalhadora. Foi babá, balconista, operária, empregada doméstica, diarista, vendedora de cosméticos. Minha mãe é uma mulher que viveu a década de 60 e 70. Hoje ela têm 54 anos. Quando se casou, parou de trabalhar, porque meu pai não queria que ela trabalhasse. Ficou cuidando da casa e depois dos filhos.

Inflação, década de 80. A situação lá em casa começou a apertar, minha mãe voltou a trabalhar fora. Chegava em casa, eu era pequena, ajudava um pouco, mas o “grosso”, a limpeza pesada era ela quem fazia. Lembro dela no fim de tarde, subindo cansada a escada de casa. Quase não conseguia subir.

Os anos se passaram, meu pai que era bastante machista, hoje não é mais tanto. Minha mãe conseguiu reivindicar muita coisa. Mas ainda assim, os direitos não são os mesmos.

Se observarmos uma empregada doméstica não ganha a mesma coisa que um pedreiro, apesar deles executarem trabalhos pesados, específicos e que não exigem formação acadêmica.

A mulher dos nossos dias, especialmente da classe média, precisa dar conta do recado. Trabalhar fora, ser competente, cuidar da casa, dos filhos, do marido, ser inteligente, ser bonita.

Onde foi parar a igualdade? Se antes a gente só cuidava da casa e esperava o maridinho, hoje a gente tem que batalhar pra encontrar um, quando encontra ainda tem que saber que está disputando com mais um milhão de mulheres desesperadas. Tem que ser gostosa, tem que ser amiga, gentil, companheira. As exigências só aumentam. Ser mulher dá trabalho e hoje estou cansada!

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