sexta-feira, 19 de junho de 2009

Achei bem bacana o texto abaixo. Me identifico com a Bruna.

Decisão do STF é um atentado à profissão

por Bruna Karpinski * (brunak@gmail.com)

Muito cedo, quando eu ainda era criança, nas entrelinhas estava evidente qual seria a minha escolha profissional. Eu tinha uns 10 anos, acho, e já demonstrava a paixão pelas palavras. Tentava datilografar os trabalhos da escola na máquina de escrever Remington que minha mãe tinha. No final, não ficava contente com o resultado porque nunca conseguia alinhar a margem direita. Arrancava a folha, amassava e tentava de novo. Ainda assim não desisti e o sonho continuou. Aos 12 anos eu já sabia dizer com convicção o que eu queria ser: jornalista.

Em 2000, aos 17 anos, ingressei na Unisinos com o coração repleto de sonhos. Me formei no meio de 2006, com 23. Foram seis anos dedicados à universidade e digo que valeu a pena. A alegria no momento em que recebi meu canudo foi desmedida. Há quase três anos estou no mercado na condição de profissional. De lá pra cá, passaram-se quase dez anos e meu ideal em relação à atividade que abracei, que sempre foi muito claro, permanece inalterado: ajudar, através do meu trabalho, na construção de um mundo menos desigual e mais justo.

Mas como não ficar indignada com a notícia de que o Superior Tribunal Federal derrubou a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista? Está certo que na faculdade eu não aprendi tudo o que hoje sei, pois muito só se aprende no mercado de trabalho. Mas mesmo que tenha encontrado algumas deficiências ao longo do curso - como acontece em todas as áreas - eu valorizo minha formação.

E o embasamento teórico e técnico? O conhecimento sobre ética e História da Comunicação? E as teorias do Jornalismo e da Comunicação? Disciplinas específicas para a formação de um jornalista. Foi tudo em vão? Não pode ser... Eu me questiono como fica tudo isso para os que nem sequer frequentaram um curso de Jornalismo e agora, com essa, vão sair por aí se dizendo jornalistas.

Será que as autoridades que tomaram esta decisão não se dão conta que uma informação mal apurada pode causar um estrago irreparável? Pelo visto não. Assim como um médico sem diploma põe em risco a vida dos pacientes, um jornalista sem formação específica é uma ameaça à integridade moral e ética da nossa sociedade. Uma notícia equivocada pode destruir pra sempre a imagem de uma empresa ou pessoa.

Como argumento para a derrubada da exigência, usam a bandeira da liberdade de expressão. A formação e o diploma de um jornalista em nada ameaçam a liberdade de imprensa. Ao contrário, qualificam a informação, que chegará à sociedade com responsabilidade e ética. Permitir que qualquer pessoa exerça a função de jornalista é um atentado ao papel social da profissão. É tornar impossível a prática de um jornalismo responsável.

A decisão do STF é um balde de água fria para os diplomados e um desestímulo aos que pensam ou pensavam em ser jornalistas. Isto é uma total desvalorização do profissional que trabalha com dignidade, em benefício da informação.

* Bruna Karpinski é jornalista.

2 comentários:

L.S. Alves disse...

Nunca gostei muito dessa disputa, sempre me pareceu corporativismo. Muitas pessoas do jornalismo falam como se a não obrigatorieddade do diploma fosse jogar fora todo o conhecimento que eles adquiriram na faculdade. Creio que essa resolução só irá trazer melhoras ao mercado.
Um abraço.

Anônimo disse...

Concordo com o L.S. Alves e vou além: defendo que o açougueiro (com todo respeito a eles) vire médico, que o rábula seja o advogado, que o auxiliar de pedreiro seja o engenheiro, que o piloto de aeromodelismo seja o piloto do jumbo, que o prático seja o dentista... e defendo que o L.S. alves seja atendido por todos esses. Precisa mais?

Luiz Stefanes - jornalista formado - luiz.stefanes@ig.com.br